Monday, February 26, 2007

Suite Natalina - Parte 2
Interlúdio


Foram claramente perceptíveis o ligeiro silêncio e a notória perplexidade que se formaram nos convivas de Horace Slughorne quando um determinado casal adentrou a sala do velho professor de Poções. Mas, de fato, como não admirar o belíssimo Conde Jarno Massimo de Camposanto e sua magnífica noiva Madeleine Sinn, ainda mais quando juntos, e trajados a rigor?

- Ah, carissima! Nada me traz mais orgoglio e piacere do que ser dardejado por olhares invejosos e assassinos de seus eternos admirattori... Guarda como me odeiam por eu trazer ao braço la donna que eles desejam... mas nunca poderão ter! – murmurou Jarno, por entre um sorriso, na orelha de Maddie.

- Bem, acho que você sabe que partilho desses seus mesmos orgulho e prazer, querido, devolveu ela, olhos brilhantes de malícia. Veja só todas essas tolinhas, como se derretem por sua aparência nobre e apaixonada, meu Conde... Mal sabem elas il diavolo que se esconde detrás desses olhos lânguidos e desse sorriso doce...

- Diavolo che ti fa tanto bene, non’è vero, carissima?, ele tornou, num sussurro rouco.

A ruiva nada disse; porém, nem seria preciso. Tudo o que pensava estava claro em seu magnífico sorriso.

-Está por aqui a linda tolinha que você tanto cobiça, Diavolino? A jovem loira de Chamonix?, emendou Maddie, passeando curiosamente seus magníficos olhos verdes pelas convidadas de Slughorne.

- Lo credo, cara mia. Afinal, lei ainda é una studentessa. E você teria tido oportunidade de conoscerla se não estivesse tão ocupada com... altre cose. – comentou Jarno, enlaçando a noiva pela cintura.

Maddie riu gostosamente... De fato, a outra coisa com que se ocupara em Chamonix lhe rendera excelentes momentos, uma vez que sua presa não demonstrara a mesma resistência que a tolinha de Jarno.

- Tudo é uma questão de oportunidade e talento - sussurrou a ruiva, deslizando suavemente um dedo pelo perfil do Conde -, e você sabe que, se a primeira por enquanto lhe faltou, o segundo lhe sobeja... Diavolino mio.

Jarno aproximou lentamente seus lábios da ruiva e a manteve suspensa a um passo de um beijo; recuou, porém, com um meio sorriso cheio de malícia. Maddie estremeceu de desejo.

- Aproveitemos agora a festinha das crianças, Diavolino, murmurou Maddie, com voz rouca. Agora é a hora de sua soirée com a francesinha. O grande espetáculo desfrutaremos mais tarde... juntos.

- Si, caríssima, mais tarde... Mesmo porque abbiamo compagnia; lá vem il Signore Slughorne, riddicolo come uno leão marinho verde, comentou Jarno, segurando o riso.

Porém, antes que Slughorne alcançasse o casal, o Conde já vestira o rosto com o mais polido dos sorrisos. Quem o visse teria a estranha certeza de que esse homem possuía o tipo de doçura dos que falam de coisas que envolvem a poesia da vida, a magia do amor, a força dos sorrisos de criança, ao mesmo tempo em que conseguiria sustentar a postura máscula de quem é o primeiro a se oferecer caso alguém precise enfrentar um Dementador. Ledo engano, que Jarno era mestre insuperável na arte de produzir.

- Benvenuto, Conde Jarno di Camposanto! É um grande piacere ter um tão galantuomo aqui, nessa pequena comemoração natalina!, exclamou Slughorne, em meio a pulinhos de prazer.

- Caríssimo insegnante Slughorne, o piacere é tutto mio em poder revê-lo dopo tanto tempo! Scuzatemi, credo que deva conoscere la mia noiva, la mia belíssima Madeleine Sinn.

- Como não reconheceria esta belissima signorina?!? – o homem rechonchudo curvou-se e tomou entre as suas a mão de Maddie, que se limitou a sorrir, graciosa e superiora, enquanto o bigode de morsa causava-lhe asco e a figura patética, pena. – Apesar de infelizmente não ter tido o piacere de tê-la como aluna, ouvi falar muito bem dela por uma fonte que certamente é sumidade no mundo onde esta beldade é estrela. Imagino que devem conhecer a distinta senhora Mildred Josephine Priout du-Lac, proprietária e editora da Charming Witch – Cosmopolitan?

- Certamente, Sr. Slughorne. Já participei de muitos editoriais dessa conceituada publicação, que foram, inclusive, os mais vendidos. – A jovem modelo era o charme em pessoa, apesar da curiosidade que a menção dos Priout du-Lac lhe despertou. Seria possível que a tolinha de Jarno... Maddie mordeu o lábio para frear o sorriso.

- E eu não sei? – o Lesmão sorriu satisfeito, as mãos pousadas sobre a imensa barriga – Pois saibam que Mme. du-Lac se encontra nesta festa! Provavelmente deve estar em companhia de sua sobrinha, Selune Priout. É uma moça realmente encantadora, apesar da tragédia que se abateu sobre ela ainda jovem, pobrezinha...

Jarno e Maddie trocaram um olhar deliciosamente malicioso. Não haveria oportunidade melhor para Camposanto atacar sua presa do que numa festinha de escola, ainda mais sob os olhos da devotada titi da francesinha. Era melhor do que se poderia imaginar, e Maddie sentiu-se arrepiar ao notar o brilho aquilino que acendeu o olhar de seu perigoso noivo.

- È vero? – como bom felino, Jarno esperou paciente. Acabara de lançar a isca com a leve entonação de dúvida que essa simples pergunta continha. Era uma questão de segundos até que a Morsa entrasse por conta própria em território de caça e permitisse ao Conde dar o bote derradeiro.

- Ora! Mas é claro que é vero, meu caro Conde!
Jarno se manteve em silêncio. Apostou na enorme vaidade do velho professor e no peso de seu título de nobre como forças motrizes para chegar onde desejava, sem que Slughorne sequer percebesse suas segundas intenções. “Sempre desafie um homem vaidoso colocando em cheque aquilo que ele mais preza”. Slughorne prezava sua credibilidade de homem bem relacionado.

- Vejam bem, - começou o Lesmão, em tom confidencial – depois que o Inominável Sebastian Priout, pai da menina, e o avô dela, professor Noah Priout, faleceram em uma mesma missão ultra-secreta do ministério, toda a família se tornou bastante reservada. Mas estou certo de que para dois convidados tão ilustres e, especialmente, sendo um pedido meu... – fez uma pausa dramática - Gostariam de ir ter com elas?

Touchè!

- Seria veramente un piacere, non è, carissima? – Jarno voltou-se todo sorrisos para a noiva.

- Si non è vero, è bene trovato, Diavolino... – Maddie sorria de volta para o noivo, parecendo ainda mais divertida que o próprio.

- Perdão? – o Lesmão olhava para o casal sem compreender.

- Quis dizer que é mesmo uma excelente idéia, Sr. Slughorne - replicou a moça, prontamente. Isso se não for incomodá-lo.

- Imagine! Tenham a bondade de me acompanhar! – enquanto andava, o professor continuava sua autopromoção: - Tenho excelentes relações com todos os membros da família Priout, e também dos Mont-Blanc, mas me surpreendi com o quão rápido conquistei a simpatia da mais nova do clã. Sabem, ela é uma pérola numa concha, um botão de flor...

Jarno olhava atentamente para o stafermo verde, mas na verdade sequer ouvia a ladainha infinita que ele professava. Caso seus cálculos estivessem corretos – e eles obviamente estavam – a jovem quartanistazinha tola a quem brindara, logo que entrara na festa, com umas migalhas de sua atenção, uma ou duas palavras e um mixo beijo na mão, a essa altura já teria dado um jeito de fazer com que a piccola principessa bebesse o “coquetel de frutas” que ele criara especialmente para ela. La Luna Oscura.

- Il giuoco é fatto, murmurou Jarno, discretamente, ao ouvido de Maddie. Deseje-me sorte, carissima.

- E desde quando você precisa de buona fortuna, Diavolino?, murmurou de volta a ruiva, mordiscando de leve a orelha do noivo. Jarno suspirou, fechando os olhos.

“Certamente, la piccola principessa, como bem diz questo stafermo, é uno tesouro escondido. Ma, questa notte é quella em que la fiore irá desabrochar... soltanto per me”, pensou Jarno, desfrutando antecipadamente o momento.

por Raven e Selune. Termos em italiano - cortersia da Raven

Glossário:

- Guarda: veja;
- il diavolo: o diabo;
- Diavolo che ti fa tanto bene, non’è vero, carissima?: Diabo que te faz tão bem, não é verdade, caríssima?;
- diavolino: diabinho;
- Lo credo, cara mia – Creio nisso, minha cara;
- lei: ela;
- studentessa: estudante;
- conoscerla: conhecê-la;
- altre cose: outras coisas;
- soirée: matinê (aproximadamente);
- abbiamo compagnia: temos companhia;
- galantuomo: gentil-homem, cavalheiro;
- insegnante: professor;
- Scusatemi: desculpe-me;
- Si non è vero, è bene trovato, Diavolino...: Se não é verdade, é bem achado, Diabinho;
- Stafermo: idiota;
- La Luna Oscura: A Lua Escura;
- Il giuoco é fatto: o jogo foi feito, a aposta está feita;
- buona fortuna: boa sorte;
- soltanto per me: apenas para mim.

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